Por Fernando Andrade A morte depois de milhares de anos pode conservar um sorriso? Um ato puramente humano com o […]

Acervo Penalux: “Tinteiros da casa e do coração desertos”, do poeta Diego Mendes de Sousa

Por Fernando Andrade

A morte depois de milhares de anos pode conservar um sorriso? Um ato puramente humano com o esgar de um ri)c)to da boca, ali, deitado no sarcófago, pode vencer a morte? E demonstrar uma afetividade longos milênios depois. Esta imagem retirei do livro O sorriso Etrusco, romance espanhol, encharcado de afeto pela casa, por raízes que puxam a terra pelas mãos do homem, que ali deitou pouso. Recordar, pode, nas malhas da oração metáfora, ser, não só aludir por troca de semelhanças, ou destoar uma relação de proximidade.

Buscar uma tinta do tingimento, e não do fingimento, “todo poeta finge a dor, que deveras sente”.  Tingir por trocar laços com a memória, com o lugar que tombou no recôncavo do coração, as espessuras dos afetos ali constituídos como laço e lastro e istmo do ninho ou caminho do lar.

No livro de poemas Tinteiros da casa e do coração desertos do poeta Diego Mendes Sousa, editora Penalux, a cava, ou espaço platônico da caverna vira avesso de cinema, exposição de imagens-sentidos expostos com uma codificação que pode vir do alegórico ao alusivo. O poeta usa a especificidade da câmera, mas não para expor uma imagem na tela do mundo.

Mas uma tela interior jogada na inconsciência das ações rotineiras, como levar o pão ao forno, demandar lenha na lareira, faz um frio de matar nesta casa que o poeta retinta com olhos pasmados. Diego cria o que para a literatura árabe seria o cálamo, depósito de tinta caligráfica onde os dedos-pinceis aprendem o ofício das leis-letras que cobrem o real de significações.

O poeta numa linguagem dosada de alumbramentos pelo desvão dos sentidos quando na cor acre do fel, do degredo, ao esquecimento de si, quando debanda uma volta à casa, esquecida, empoeirada de grãos de lapsos do ontem. Mas é possível condensar uma vida num momento único da casa? Tal qual lastro de perdido abandono. A poesia em si, seria esta âncora para fincar o fundo da linguagem, para recolher todos os sedimentos que nada mais seriam que sentimentos há muito esquecidos pela casa fechada ao convívio. Diego traz de volta esta raiz do antropo-cultural mexido por ele por inúmeras tonalidades de imagens sensórias do pertencimento esquecido da casa.

Fernando Andrade – É crítico literário, poeta e escritor, autor de 4 livros. O seu trabalho mais recente é Perpetuação da espécie  [Editora Penalux,  2018].

Sobre o autor

Diego Mendes Sousa (Parnaíba/PI, 15 de julho de 1989) é escritor, jornalista,advogado, indigenista, ambientalista e ativista cultural. Membro do PEN Clube do Brasil e detentor do Prêmio Castro Alves da União Brasileira de Escritores do Rio de Janeiro (UBE-RJ), 2013, pelo conjunto da obra. Publicou 50 Poemas Escolhidos pelo Autor (Edições Galo Branco, 2010), dentre outros títulos. Seus poemas foram traduzidos para o inglês, o espanhol, o francês e o grego.

EDITORA PENALUX

www.editorapenalux.com.br

Fonte: Literatura & Fechadura

 

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