Apesar da minha profissão e do cargo que eu ocupo hoje, após anos nas ruas prendendo todo tipo de vagabundo, […]

Nessa guerra, quem mais sofre?

Apesar da minha profissão e do cargo que eu ocupo hoje, após anos nas ruas prendendo todo tipo de vagabundo, e servindo a população da melhor maneira possível junto com meus irmãos de farda, eu confesso que, mesmo repudiando a bandidagem em geral, hoje eu sinceramente lamento pelas famílias que estão perdendo seus filhos, irmãos, pais, e outros entes queridos para o mundo do crime.

A cidade está em guerra! Massacres e disputas por pontos de drogas e o controle do trafico estão dizimando nossos jovens, e não adianta apenas torcer para que só morram os bandidos, e os traficantes, pois todos nós estamos sendo atingidos diretos e indiretamente com tudo isso, e um ser humano que não se solidariza com a dor de uma mãe chorando em cima do cadáver ensanguentado do seu filho, não merece ser chamado de humano, mesmo sabendo que o filho era um traficante ou o pior dos bandidos, o coração de mãe é o mais perto que temos do que é o amor de Deus!

Eu continuo morando na mesma casa, e no mesmo bairro, e é triste saber das perdas de pessoas que eu vi crescer, e que até tempos atrás brincavam de bola perto de casa, me cumprimentavam quando eu passava pro serviço, e de repente, sou notificado de que foram mortos por envolvimento no tráfico, por acertos de contas e etc. Eu, de certa forma me sinto um derrotado também, com aquela sensação de que poderia ter feito algo, mas infelizmente a vida fácil muitas vezes agrada e chama mais a atenção do que um simples conselho ou trabalho digno.

Que uma intervenção forte urgente seja feita o quanto antes, para que nossos jovens sejam também atraídos para o lado bom da vida, seja pelo esporte, pelas artes, pela música e principalmente pelos estudos, e não apenas pelo mundo do crime e pelo dinheiro fácil! Que esse rio de sangue derramado em vão, não se misture com as lágrimas de famílias que não pediram isso.

Tenente Carpê Andrade

 

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