Mais da metade dos municípios do Amazonas tem 50% ou mais da população dependente do Auxílio Brasil (antigo Bolsa Família). […]

Procura pelo Auxílio Brasil dispara no Amazonas

Mais da metade dos municípios do Amazonas tem 50% ou mais da população dependente do Auxílio Brasil (antigo Bolsa Família). Com a aprovação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC 01/2022), que autoriza a liberação de dois milhões de novos beneficiários e aumenta o valor de R$ 400 para R$ 600, esse número deve crescer e a expectativa tem aumentado a procura pela atualização e inscrição no Cadastro Único (CadÚnico).

A reportagem esteve em Centros de Referência em Assistência Social (Cras) localizados em diferentes zonas da capital, e constatou o aumento da demanda pelo cadastro, mesmo com o governo prorrogando os novos cadastros para o dia 12 de agosto e atualização cadastral para 14 de outubro.

A psicóloga Samantha de Sá, que trabalha na terceira maior unidade em volume de atendimentos, a do São José 4, afirmou que somente por ali são atendidas entre 90 a 120 pessoas por dia em busca do CadÚnico, cadastro que dá acesso a mais de 30 programas sociais. A principal demanda, segundo ela, são os programas de transferência de renda, em especial, o Auxílio Brasil.

Devido à alta demanda, Samantha disse que a espera para a entrevista social, parte do processo para concessão do benefício, pode chegar a um mês. Mas, de acordo com ela, o problema foi agravado por conta da desatualização de dados durante a pandemia, quando o governo orientou os municípios a não priorizar a atualização de cadastros. Nesse período alguns registros do CadÚnico foram excluídos.

Exclusão

“Se não atualizar, quando fizer quatro anos de desatualização ele é excluído e começa o processo todo de novo e os benefícios que você tinha são cancelados. Quem estava desatualizado desde o início da pandemia, ao longo da pandemia o governo excluiu e quando voltou agora um monte de pessoas perderam o cadastro. Essas pessoas estão buscando novamente e as famílias que surgiram também estão em busca”, explicou à psicóloga.

A psicóloga revelou ainda que o perfil de pessoas que buscam as unidades de atendimento teve uma mudança, depois da pandemia, muitos homens idosos em situação de abandono, com moradia cedida e analfabetos buscaram o serviço.

Homens idosos

“São idosos que antes faziam bico, se viravam por aí e hoje, aquelas pessoas que pagavam 20 reais para um idoso capinar, não tem mais esses 20 reais, porque a situação está difícil. Então esses serviços esporádicos que esses homens faziam, eles não conseguem mais”, disse a profissional.

Mas o público majoritário ainda é o das mulheres chefes de família, como a dona de casa, Alvania dos Santos, 46, que chegou às 6h da manhã em uma unidade do Cras na Zona Leste. O agendamento para entrevista social havia sido feito no dia 13 de dezembro, mas ela só foi atendida no dia 13 de julho.

Desempregada há três anos, ela espera que o dinheiro possa ajudar nas despesas da casa que atualmente são mantidas com a pensão que recebe das duas filhas. Uma delas é menor aprendiz e terá o contrato de dois anos encerrado nos próximos meses.

“Eu não trabalho e as meninas ainda estão entrando no jovem aprendiz. Como as minhas filhas são ‘de menor’ (SIC), para eu deixar elas sozinhas fica complicado. Tem gente que mora perto e denuncia. Fica difícil”, lamentou a dona de casa.

“É a primeira vez que eu estou vindo. Eu fiquei desempregada. Vou usar o dinheiro para comprar coisas para eles comer”, relatou a também dona de casa Thalia Laborda.

Também na fila do Cras, Paulo Oliveira descreve a situação de quem não tem emprego formal, atuando como autônomo: “Procuro uma forma de renda, uma ajuda do governo, porque é difícil, quem vende a prazo, nem sempre tem uma renda”.

‘Arrastão, de vez em quando’

Quem já estava pronta para a entrevista era a dona de casa Maria do Socorro, 54, uma das primeiras na fila do Cras do bairro Alvorada, zona Centro-Oeste de Manaus.

“Eu vim atrás do Auxílio [Brasil]. Mora duas pessoas na minha casa, eu e meu esposo. Nós estamos desempregados e estamos sobrevivendo. Faz um trabalho aqui, outro ali, a família ajuda e assim vai”, contou.

O que ela não esperava que o atendimento iria demorar por conta de um furto aos cabos de eletricidade.

“Eu agendei terça-feira. Era para gente já ter sido atendido, mas roubaram o fio, parece que queriam roubar. Aí nós estamos aqui até essa hora. Isso faz um medo. A gente não trás o celular”, disse.

Em outro Cras, na zona Leste, onde são atendidas diariamente até 200 pessoas, a situação de insegurança é relatada por um funcionário que preferiu não se identificar.

“Às vezes [as pessoas] chegam de madrugada e eu falo pro pessoal: não cheguem de madrugada. A gente mesmo que está aqui dentro tem medo de ser assaltado. Eu mesmo fui assaltado aqui dentro. O cara colocou a arma na minha cabeça e levou o celular. De vez em quando tem arrastão. Não adianta chegar de madrugada, porque abre somente às 8 horas”, contou.

Envira lidera o ranking

O cruzamento do cadastro do Ministério da Cidadania com a estimativa populacional, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostra que 32 dos 62 municípios do Amazonas metade ou mais da população é beneficiária do Auxílio Brasil.

Os cinco municípios com maior proporção populacional dependente do benefício são: Envira (107%), Beruri (96%), Santo Antônio do Iça (94%), Silves (82%), Carauri (79%). Os com menor porcentagem de beneficiários são: Santa Isabel do Rio Negro (33%), Caapiranga (33%), Apuí (32%), Manaus (23%), Barcelos (23%).

Em todo o Estado, 405.487 famílias têm acesso ao Auxílio Brasil, número 18% maior do que em dezembro de 2021, quando 405.487 famílias eram beneficiadas. Esses núcleos familiares têm uma renda média de R$ 248,16. Ao todo, contando o número de pessoas nessas famílias, 1.674.553 pessoas são impactadas com esses recurso federal.

A reportagem tentou contato com as prefeituras que ocupam as primeiras posições em número de famílias que recebem o benefício, mas não obteve sucesso. A Prefeitura de Beruri disse que retornaria o contato, o que não ocorreu.

Manaus soma 323.630 cadastros

Atualmente, segundo a Secretária Municipal da Mulher, Assistência Social e Cidadania  (Semasc), Manaus tem 323.630 famílias no Cadastro Único. Em dezembro de 2021, esse número era de pouco mais de 281 mil. Do total atual, pelo menos 60 mil famílias ainda necessitam atualizar o cadastro.

Para acelerar o processo, a Semasc declarou que tem realizado mutirões aos sábados, feriados e pontos facultativos. Já foram 10 mutirões este ano, com uma média de atendimento de 800 famílias por evento. Também tem reforçado o número de pessoas no atendimento e estendido o horário de trabalho até às 17h.

A cidade possui 20 Cras,  mais uma subcentral localizada na sede da secretaria e duas unidades descentralizadas no Shopping Phelippe Daou e Galeria Espírito Santo. O atendimento é feito mediante agendamento feito nas unidades.

Para inclusão ou atualização no cadastro é preciso o comprovante de residência ou recibo de aluguel; identidade; CPF; título de eleitor; carteira de trabalho; comprovante de renda ou Contracheque. Para dependentes menores de 18 anos é necessário certidão de nascimento e declaração escolar atualizada (válida por um mês a partir da data de emissão).

Auxílio estadual

Além do benefício concedido pela União, 296.795 pessoas em todo o Estado do Amazonas foram contempladas com o Auxílio Estadual Permanente de R$ 150 mensais para a população em situação de extrema pobreza. O benefício é creditado sempre no dia 15 de cada mês, mas não recebe novos cadastros desde 30 de junho.

Com informações: A Crítica

Deixe um comentário