Com o declínio da borracha, que ocasionou a falência de seringueiros e seringalistas no Amazonas, surge a ‘Cidade Flutuante’, com registro de […]

Relembre a história das numerosas moradias na ‘Cidade Flutuante’ em Manaus

Com o declínio da borracha, que ocasionou a falência de seringueiros e seringalistas no Amazonas, surge a ‘Cidade Flutuante’, com registro de quase 12 mil moradores na época.

O ciclo da borracha proporcionou um vasto desenvolvimento econômico, social e cultural para o Amazonas. Contudo, seu declínio, além de ocasionar a falência de seringueiros e seringalistas, foi um dos fatores que propiciou o surgimento da Cidade Flutuante. Com dinâmicas econômicas e sociais próprias, havia registro de quase 12 mil moradores pouco antes da década de 1970.

O Portal Amazônia entrevistou o historiador e pesquisador Abrahim Baze e relembra aspectos da curiosa Cidade Flutuante, em Manaus:

Contexto histórico

O monopólio da borracha no Amazonas gerou várias ondas de migrantes que iam para o Estado em busca de emprego e oportunidades, como é o caso de inúmeros nordestinos e também de ribeirinhos vindos do interior.  Com o enfraquecimento e posterior fim do ciclo da borracha, ocorreu um crescimento demográfico que ocasionou uma explosão populacional em que muitas famílias não tinham onde morar.

Nesse contexto, desde a década de 1920, grupos de pessoas começaram a construir casas flutuantes nos arredores de Manaus, sobre palafitas.

Para além da falta de políticas públicas voltadas para as populações mais pobres e para construção de casas populares, o historiador Abrahim Baze conta que as grandes cidades da Amazônia foram construídas tendo em vista sua proximidade com o rio e que já havia um núcleo populacional e comercial intenso nos arredores do rio:

“A maioria das cidades da Amazônia foram erguidas de frente para o rio. E naquele núcleo populacional e comercial existia um número muito grande de árabes, judeus e também portugueses que se instalaram ali. Todo comerciante, todo cidadão, todo ribeirinho que morava nas barrancas, nos interiores do Amazonas vinham até Manaus para suas compras. […] A cidade flutuante não surge só do processo habitacional. A ausência de políticas públicas também é fundamental nesse contexto, mas é fundamental principalmente pelo fato dali ser um centro comercial, tanto é que os grandes fornecedores do interior do Estado estavam ali”. explica Baze.

Dinâmica própria

Segundo o historiador, a cidade flutuante foi benéfica para pequenos comerciantes, que não tinham condições de comprar um prédio ou um espaço nas principais ruas de Manaus, uma vez que os preços nas lojas da cidade não eram tão acessíveis para a população de baixa renda.

“A cidade flutuante tinha indústria, tinha farmácia, tinha comércio, tinha ourivesaria, tinha lanchonete e naturalmente, aquelas pessoas que ali trabalhavam também instauraram seus núcleos residenciais”, destaca Baze.

Saneamento e luz elétrica

Como surgiu como uma espécie de “invasão”, as habitações acima do rio não tinham mínimas condições sanitárias de saneamento, higiene e conforto, o que provocava, ocasionalmente, a proliferação de doenças.

Em relação à energia elétrica, algumas moradias possuíam de maneira regular, fornecidas pela companhia, outras obtidas através de geradores. Havia também algumas casas que tinham energia elétrica por meio dos chamados “gatos”, ligação ilegal, puxados a partir de algum comércio em terra firme.

“Era tudo improvisado. Mas aqueles flutuantes mais próximos da beira eles tinham luz elétrica fornecida pela então Companhia de Eletricidade de Manaus (CEM) que já não existe mais. Água potável não tinha, eles se abasteciam da água do Rio Negro. […] A mesma água em que jogavam os dejetos no rio era utilizada para tomar banho e para beber”. Relatou o pesquisador.

Destruição da cidade

Com o passar do tempo, a cidade flutuante crescia desordenadamente. Em 1966, segundo registros da época, cerca de 1.950 flutuantes existiam nas margens do Rio Negro com aproximadamente 11.400 moradores. Um mês após a posse do então governador do Estado, Arthur Cezar Ferreira Reis, a Capitania dos Portos proibiu a instalação de novos flutuantes nas águas de Manaus.

Mesmo com a iniciativa, foram construídos mais de 400 flutuantes nos arredores da cidade. Em 1967, Arthur, pressionado pelo Comando Militar da Amazônia (CMA), fechou permanentemente a cidade flutuante e transferiu seus moradores para diversos bairros.

Após 1967, moradores da extinta cidade flutuante foram direcionados à outros bairros. Foto: Reprodução/Revista ‘O Cruzeiro’, de 8 de julho de 1962.

Povoamento de novos bairros

Com as políticas públicas de realocação da cidade flutuante para a capital, alguns bairros foram surgindo e outros começaram a ser fortemente povoados. Dentre eles destacam-se o bairro do Alvorada, Coroado, Conjunto Costa e Silva e Santo Antônio.

A história do bairro do Alvorada está ligada à atual Arena da Amazônia e começou entre 1968 e 1969, no qual os primeiros moradores foram os próprios operários das obras do ‘Vivaldão’, como era conhecido o antigo Estádio Vivaldo Lima – onde hoje é a Arena -, além de  pessoas vindas da Cidade Flutuante.

Reportagem: sabelle Lima

Fonte: Portal Amazônia

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