“Mãe lê pensamento, tem premonição, sonhos estranhos. Conhece cara de choro, de gripe, de medo, entra sem bater, liga de […]

Análise de uma MÃE

“Mãe lê pensamento, tem premonição, sonhos estranhos. Conhece cara de choro, de gripe, de medo, entra sem bater, liga de madrugada, pede favor chato, palpita e implica com amigos, namorados, escolhas. Mãe dá a roupa do corpo, tempo, dinheiro, conselho, cuidado, proteção. Mãe dá um jeito, dá nó, dá bronca, dá força. Mãe cura cólica, porre, tristeza, pânico noturno, medos. Espanta monstros, pesadelos, mosquitos, perigos. Mãe tem intuição e é messiânica: mãe salva. Mãe guarda tesouros, conta histórias e tem lembranças. Mãe é arquivo! Mãe exagera, exaure, extrapola. Mãe transborda, inunda, transcende…”

Hoje para nós é um dia muito importante, para quem ainda tem a sua mãe e para quem não tem mais, são dias de lembranças e de grande gratidão por nos ter colocado neste mundo. Dedico este artigo à minha mãe Severina que já não está entre nós, minha inspiração. Vejo ela neste texto, uma mulher silenciosa, amorosa, angustiada pela vida, mas firme em seu silêncio. Capaz de dar sua vida pelos seus filhos, assim como toda mãe. Você deve lembrar muito bem ao dizer que sua mãe era ou é chata, incompreensiva, irritante ou até mesmo sem noção! Pois é, mãe é tudo isso e mais um pouco, como diz o texto supracitado, que a mãe é exagerada e que sempre esta ligada nos filhos, antenada nas coisas que se passa ao seu redor para dá uma de segurança para o bem-estar deles. Mãe faz promessas, prestação, hora extra, pra que a gente tenha o que é preciso e o que sonha. Mãe surta, passa dos limites, às vezes até bate, diz coisas duras; mãe pede desculpas, mortificada… “Mãe é um bicho doido”, louco pela cria. Mãe é Visceral!

Mãe chora em apresentação de balé, em competição de natação, quando a filha menstrua pela primeira vez, quando dá o primeiro beijo, quando vê a filha apaixonada no casamento, no parto… Xinga todo e cada desgraçado que faz a filha sofrer, enlouquece esperando ela chegar da balada, arranca os cabelos diante da morte…Mãe é uma espécie esquisita que se alterna entre fada e bruxa com um naturalidade espantosa. Claro que nada disso é ficção, é real, a não ser a fada e bruxa. O que eu acho interessante é que nós filhos, planejados ou não somos inspirações para elas, já estava tudo em seu inconsciente que queria você como filho(a), já estava em seus sonhos de um dia te conhecer.

Ano passado assisti o filme “Mother!” (Mãe!), filme de 2017 dirigido por Darren Aronofsky (Cisne Negro e Noé) e estrelado por Jennifer Lawrence e Javier Barden, não se trata de uma história de fácil compreensão – aliás, ao contrário, é um filme difícil até mesmo de definir em que gênero cinematográfico se encaixa. Gostaria de fazer uma análise psicológica deste filme a qual eu indico, mas já dito não é de fácil compreensão.

 “Mother” – uma análise psicológica do filme

 

Logo no início do filme, temos a informação de que a casa do poeta havia sido destruída; a casa havia pego fogo e vinha sendo restaurada pela atual mulher dele. Partindo-se de uma perspectiva psicológica, sabe-se que a casa, simbolicamente, representa o ego do sujeito. Aqui também cabe outra ressalva: simbolicamente, também é possível associar a paixão ao fogo, ao calor. Bem, a narrativa do roteiro leva-nos a compreender que a mulher do poeta o ama profundamente e o admira mais do que qualquer coisa no mundo; ela toma para si a tarefa de estruturar a casa onde Ele “foi criado” – mas não só isso, ela sente o “coração bater” (a vida pulsar?) através da estrutura da casa (ego) do poeta.

É como se, simbolicamente, ela apoiasse sua existência (seu próprio ego) no existir do outro; ela vive para o outro. Ver a casa ser estruturada, reparada, dá sentido à sua vida. Para a personagem, ela e ele são um, não há diferenciação. Amá-lo, é como amar a si mesma; trata-se de um amor que beira as raias da psicose. Estabelecendo um paralelo com a Psicologia Junguiana, podemos compreender esta relação tomando os conceitos de “anima” e “animus“. De acordo com Jung, inconscientemente, todo homem carrega dentro de si a imagem de uma mulher ideal – a “anima” – assim como toda mulher carrega a imagem de um homem ideal – o “animus”; anima e animus, são, portanto, arquétipos.

Analisando-se mais detalhadamente o arquétipo da anima, pode-se afirmar que, como todo arquétipo, a anima apresenta um lado positivo e outro negativo em sua relação com o ego masculino. Em seu aspecto positivo, ela é capaz de inspirá-lo e sua capacidade intuitiva, muitas vezes superior a do homem, pode advertí-lo convenientemente (JUNG, 2008). Jung ainda aponta que as manifestações da anima em um homem são determinadas pela experiência dele com sua mãe pessoal. No entanto, ao longo da vida do homem, é necessário que a imagem da anima se separe da imago materna – o que me leva a pensar: será que isto de fato ocorreu com o poeta? Ou será que a sua mulher, inconscientemente, trata-se de um cabide em que cabe perfeitamente a projeção da imago de sua própria mãe? É, de fato, muito estranho esse amor quase incondicional que a esposa lhe dedica; remete-nos, inevitavelmente, à ideia do amor materno e ao próprio título do filme.

Agora pense em 3 coisas que você odeia em seus pais! Pois bem, lamento em lhe dizer isso, mas você é igualzinho a eles ou até pior. Então pega leve com a sua mãe ou com seu pai, apesar de ser dia das mães, seu pai tem uma grande parcela em sua formação e criação. E pode ter certeza você filho(a) estará trazendo coisas pra dentro de outra família que você formará ou já formou. Cabe a nós fazermos mudanças e não projetar os erros deles em você. De uma coisa tenho certeza, uma mãe comete erros para ver seu filho(a) acertando no futuro!

FELIZ DIAS DAS MÃES!

*Elias Moura é Psicanalista e Teólogo.

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