Cresce cada vez mais o interesse das empresas em verificar nos perfis particulares de redes sociais os valores, as informações, […]

Desempregado pelas redes sociais

Cresce cada vez mais o interesse das empresas em verificar nos perfis particulares de redes sociais os valores, as informações, o vocabulário, os conteúdos e o comportamento dos profissionais que trabalham ou que estão buscando ingressar em seus quadros, a fim de que se possa verificar com alguma certeza o que pensam e, principalmente, como interagem nos ambientes externos ao corporativo, especificamente nas redes sociais de relacionamento compartilhado, que se transformaram em um campo fértil para a proliferação de ódio indiscriminado ao outro diferente e ao outro intransigente.

Infelizmente, as redes sociais passaram a ser uma enciclopédia gigantesca de mentiras e notícias falsas sobre pessoas ou grupo de pessoas que pensam e comungam valores diferentes daqueles comungados por outros grupos, ou pelos chamados haters – que são aqueles que publicam nas redes sociais o seu sentimento de ódio a tudo que os cerca.

No mundo atual, e mais claramente no mundo corporativo, o ódio, a burrice, a canalhice, o extremismo e a incapacidade de saber interagir e conviver com paciência e sem excessos e desequilíbrios não encontram respaldo nas relações de trabalho, simplesmente porque o mundo do trabalho da atualidade é um mundo estruturado para o compartilhamento de relações, funções e responsabilidades mutuamente dependentes, em redes de interação constituídas por equipes multifuncionais, multiestruturais, multiculturais e multirraciais, principalmente nos níveis mais altos de competência e gestão.

No mundo “do antigamente” a grande maioria das pessoas, longe do portão das fábricas, permitia-se viver, ouvir, falar e compartilhar o que desejasse, pois não havia interesse, e muito menos condição das empresas “administrarem” a vida pós jornada de trabalho de seus funcionários. Além disso, os acontecimentos não éticos e os atos desonestos ou desabonados praticados por funcionários e gestores permaneciam conhecidos apenas nas cercanias dos praticantes, salvo nos casos que estes eram “premiados” com alguma manchete chamativa nas capas de jornais e de revistas de grande alcance.

Pessoas que postam em suas redes sociais que curtem isso ou aquilo, que votam e apoiam esse ou aquele candidato ou que vendem uma ideia deturpada e depreciativa sobre determinadas questões, e ainda afirmam que quem quiser que o exclua de sua página, passam a seguinte mensagem para as empresas que podem lhes contratar:

Eu curto isso mermo, voto e apoio isso mermo e não vou mudar, quem quiser que me contrate.”

Ai, depois ficam se perguntando o que falta acrescentar em seus currículos, que as empresas não lhe chamam para entrevistas. Ora, as empresas não têm interesse em contratar alguém que não consegue ser flexível nem mesmo em relações amigáveis construídas nas redes sociais, além de não poderem se arriscar a contratar alguém que antecipadamente afirma que não tem capacidade de enfrentar paradoxos, de mudar e de se adaptar às mudanças permanentes que ocorrem no mercado de trabalho, no ambiente organizacional e na própria vida.

Certamente que em um futuro bem próximo empresas e outras instituições darão um peso muito menor aos currículos vitae e passarão cada vez mais a trabalhar com informações coletadas nas próprias redes sociais e em outros mecanismos de compartilhamento de conteúdos e ideias, que será uma etapa anterior à entrevista, que é o momento onde a empresa busca validar as informações curriculares e coletadas por outros meios, além de perceber mais precisamente a questão comportamental do candidato em relação aos valores da empresa.

Assim, em uma sociedade que funciona cada vez mais conectada e que compartilha múltiplas informações continuamente através de múltiplos mecanismos de interação, pessoas preocupadas com suas carreiras devem ter a preocupação cada vez maior de divulgar conteúdos e de se relacionar com grupos e comunidades que pregam sem receio o valor da multiplicidade, da ética, dos valores positivos e da capacidade de entender o outro com valor, importância, significado e inclusão.

A frase “quem quiser que me exclua”, está começando a excluir as pessoas de oportunidades de emprego e de trabalho.

 

*José Walmir Monteiro da Silva é escritor, professor, e economista.

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